Falha global na AWS derruba Fortnite, Alexa e impacta serviços no Brasil e no mundo

Falha global na Amazon Web Services (AWS) impactando serviços globais

Resumo

Na madrugada de 20 de outubro de 2025, uma falha em larga escala na Amazon Web Services (AWS) gerou uma das maiores interrupções globais de serviços digitais dos últimos anos. O incidente começou por volta das 2h (horário de Brasília) e impactou milhões de usuários em todo o mundo, derrubando plataformas populares como Fortnite, Amazon Alexa, Snapchat e diversos sistemas corporativos que dependem da infraestrutura de nuvem da Amazon.

Linha do tempo do incidente

Os primeiros relatos de instabilidade surgiram em fóruns técnicos e redes sociais, com usuários relatando lentidão e falhas de login em múltiplos aplicativos. Por volta das 3h, o site Downdetector já mostrava picos de notificações em serviços da Amazon e parceiros. Às 3h30, a própria AWS confirmou uma falha na região US-EAST-1, responsável por uma parte significativa do tráfego global.

Durante as horas seguintes, equipes da AWS trabalharam para mitigar os impactos, e às 6h parte dos serviços foi restabelecida. No entanto, instabilidades secundárias continuaram até o fim da manhã, especialmente em APIs críticas como as de autenticação e roteamento interno.

Por que a região US-EAST-1 é tão importante

A região US-EAST-1, localizada na Virgínia do Norte (EUA), é a mais antiga e densa em termos de infraestrutura da AWS. Ela abriga uma grande quantidade de serviços centrais que não apenas hospedam sites e sistemas, mas também controlam autenticação, balanceamento de carga e distribuição de DNS. Isso faz com que uma falha localizada possa ter efeitos em cascata, atingindo até regiões fisicamente distantes, como a América do Sul e a Europa.

Segundo especialistas, a arquitetura da AWS depende fortemente de serviços compartilhados. Quando um desses serviços apresenta problemas, a instabilidade se propaga rapidamente. Esse fenômeno é conhecido como single point of failure (ponto único de falha), e apesar dos mecanismos de redundância, ainda é difícil evitar que grandes interrupções aconteçam.

Impacto global

O colapso temporário da AWS afetou centenas de plataformas. Entre as mais notáveis:

  • Fortnite: servidores ficaram inacessíveis, impedindo login e partidas.
  • Snapchat: falhas na entrega de mensagens e carregamento de stories.
  • Amazon Alexa: dispositivos de automação doméstica ficaram inoperantes em várias regiões.
  • Spotify, Disney+ e Slack: relataram lentidão e falhas pontuais de autenticação.

Grandes companhias também tiveram operações comprometidas, com e-commerces, bancos e empresas de streaming sofrendo atrasos e interrupções intermitentes.

Impacto no Brasil

No Brasil, o reflexo foi imediato. Usuários relataram lentidão em plataformas como Nubank, iFood, Prime Video e Mercado Livre. Embora as regiões brasileiras da AWS não tenham caído totalmente, muitos serviços utilizam sistemas de autenticação hospedados na US-EAST-1. Isso explica a intermitência observada mesmo em aplicações locais.

Empresas que utilizam infraestrutura híbrida, como bancos e fintechs, conseguiram manter parte de suas operações. Já startups totalmente dependentes da nuvem da Amazon enfrentaram indisponibilidade total por mais de 3 horas.

Reação da AWS e transparência

Às 4h30, a AWS publicou sua primeira atualização oficial no Service Health Dashboard, informando que engenheiros estavam “investigando taxas de erro aumentadas”. A empresa adotou uma comunicação gradual, atualizando a cada 30 minutos até o início da normalização.

Segundo o comunicado, “a falha foi causada por um problema interno de conectividade de rede que impactou múltiplas zonas de disponibilidade”. Em outras palavras, parte dos servidores perdeu comunicação interna, prejudicando a sincronização de APIs e bancos de dados distribuídos.

Como isso acontece tecnicamente

Falhas desse tipo geralmente envolvem componentes como o Elastic Load Balancer (ELB) e o Identity and Access Management (IAM). Quando o IAM é afetado, milhões de aplicações perdem a capacidade de autenticar usuários e serviços. Já o ELB, quando instável, impede o roteamento equilibrado do tráfego — resultando em lentidão global.

Segundo engenheiros da comunidade de infraestrutura, há indícios de que uma atualização automatizada de rede pode ter causado um loop de dependência entre APIs internas, sobrecarregando o tráfego. A AWS, até o momento, não confirmou essa hipótese.

Impacto setorial

Setor financeiro: Bancos digitais e fintechs relatam falhas em APIs e atrasos em transações. O open finance brasileiro, que depende de integrações com nuvem, também apresentou lentidão.

Streaming e entretenimento: Plataformas como Prime Video e Disney+ tiveram falhas de carregamento. Em horários de pico, o impacto foi mais perceptível na América Latina.

Automação doméstica: Usuários da Alexa ficaram sem controle sobre dispositivos conectados, o que gerou grande volume de reclamações em fóruns da Amazon.

Empresas de tecnologia: Equipes de DevOps e segurança passaram a redirecionar tráfego manualmente, aplicando rotas alternativas em outras regiões (como US-WEST-2 ou South America – São Paulo).

O impacto na economia digital

Segundo dados da consultoria Gartner, 33% da internet pública depende direta ou indiretamente da AWS. Isso significa que uma falha de poucas horas pode causar prejuízos superiores a US$ 500 milhões em produtividade, publicidade e e-commerce. O incidente de 2025 é comparável em escala ao apagão da AWS ocorrido em dezembro de 2021, que afetou milhões de usuários globalmente.

Além disso, há reflexos na confiança do mercado: empresas que antes viam a AWS como sinônimo de estabilidade agora discutem estratégias multicloud, distribuindo suas operações entre Google Cloud e Microsoft Azure para evitar dependência excessiva.

O que aprendemos com o incidente

O evento reforça a importância de planejamento de continuidade de negócios e resiliência digital. Companhias que possuíam planos de recuperação (DRP – Disaster Recovery Plan) conseguiram migrar operações em minutos. Já aquelas sem redundância enfrentaram paradas completas.

Além disso, especialistas destacam a importância da observabilidade — monitorar logs, métricas e eventos externos para detectar falhas antes que o cliente perceba. Ferramentas como Grafana, Prometheus e Elastic (SIEM) foram fundamentais para equipes de resposta rápida durante o apagão.

O papel da inteligência artificial e do futuro da nuvem

Empresas estão investindo cada vez mais em sistemas de IA preditiva para identificar falhas antes que elas aconteçam. A AWS, inclusive, anunciou recentemente o uso de machine learning para prever anomalias de tráfego. No entanto, o incidente mostra que mesmo com automação e inteligência, erros humanos ou falhas de dependência cruzada ainda podem gerar caos.

No futuro, a tendência é de adoção de arquiteturas multicloud e edge computing, distribuindo cargas de trabalho em várias nuvens e servidores locais. Isso reduz riscos e aumenta a resiliência da internet global.

Comentários de especialistas

Analistas da empresa Cloudflare afirmaram que “a complexidade da infraestrutura moderna faz com que interrupções isoladas se tornem globais em minutos”. Já a consultoria Trend Micro destacou que “falhas desse porte evidenciam a necessidade de planos de contenção e comunicação eficaz entre provedores e clientes”.

Para o pesquisador brasileiro em cibersegurança, Felipe Soares, “a nuvem é segura, mas não infalível. O problema não é a tecnologia, mas o grau de dependência. Quanto mais concentrada a infraestrutura, maior o impacto quando algo sai do controle”.

O papel do Brasil e da América Latina

Na América Latina, a região São Paulo (sa-east-1) da AWS tem ganhado destaque como alternativa para empresas que querem reduzir latência. No entanto, muitos serviços ainda dependem de autenticação via EUA. Especialistas sugerem que a Amazon precisa descentralizar ainda mais sua arquitetura e oferecer independência total para cada região.

Empresas brasileiras têm buscado soluções híbridas com provedores locais como Oracle Cloud, UOL Diveo e Google Cloud para mitigar riscos de indisponibilidade global.

Conclusão

A queda global da AWS em outubro de 2025 ficará marcada como um lembrete de que a conectividade mundial é tão forte quanto seu elo mais fraco. A dependência de poucos provedores de nuvem torna a internet mais vulnerável a falhas sistêmicas. O incidente também demonstra a necessidade de cultura de resiliência, monitoramento proativo e diversificação de provedores.

Para o usuário comum, o impacto foi passageiro. Para as empresas, foi um aviso claro de que o futuro da infraestrutura digital precisa ser mais distribuído, transparente e preparado para o inesperado.

Referências

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